No post de hoje veremos em 5 lições como você deve proceder para que seu projeto falhe completamente. Invariavelmente, se você não se empenhar na aplicação das dicas fornecidas aqui é bem provável que você não consiga fazer com que seu projeto falhe mas apenas que tenha um resultado medíocre que é o atraso do cronograma. Por isso, estude todos as lições para que você realmente consiga fazer com que seu projeto falhe.
Esse artigo é antigo e não reflete integralmente a minha opinião. Entretanto ele será mantido aqui por motivos históricos.
Osvaldo Santana Neto
Lição 1 – Analise, analise e depois analise
Isso mesmo. Seu projeto corre o risco de ser um sucesso se você não trabalhar bastante na análise do problema a ser resolvido. Já imaginou se no lugar de analisar você tivesse implementando algo?
Se o problema é simples e não demanda muita análise utilize a sua criatividade para aumentar o problema e tentando convencer o usuário (cliente) de que este problema que ele não tem é algo que ele deveria ter.
Lição 2 – Trate o projeto de software da mesma maneira que um engenheiro trata o projeto de uma ponte
Se você tratar o seu projeto como um projeto de software ele tem uma mínima chance de dar certo e isso é algo intolerável para a nossa missão. Faça diferente. Trate o seu projeto de software da mesma maneira que um engenheiro trata do projeto de uma ponte.
Para fazer isso com sucesso auto-denomine-se “Engenheiro de Software”, além de pomposo (já que você não tem um diploma de engenharia, não estudou Cálculo I/II/III/IV e não está registrado no CREA) representa melhor o trabalho que você fará no seu projeto. Isso implica que você terá que abandonar o título de “Desenvolvedor” ou “Programador” porque esses dois caras aí são caras que “desenvolvem” e “programam” e isso é algo que não devemos fazer.
Software como o nome diz é algo “soft” (maleável, leve, suave) se tratarmos ele dessa forma teremos sucesso no projeto e não é isso que a gente quer. Então trate o software como algo “hard” (estático, pesado, duro) e para nos certificarmos de que tudo dará certo (quer dizer, errado) trate ele como algo “hard” e “heavy” (pesado, grande). Para podermos ilustrar a nossa idéia:
Nada mais estático e pesado do que uma ponte (o caso da ponte da BR-116 é uma excessão à essa regra).
Engenheiros adoram usar coisas como PMI, Microsoft Project, Primavera, etc. Essas técnicas geram planilhas muito legais com cronogramas e tabelas cheias de informações facilmente geradas em uma planilha eletrônica convencional. Mas uma planilha eletrônica convencional não é reconhecida por PMIs e etc.
Adote a metodologia mais pesada que você conseguir adotar. Uma dica: RUP. Sugira a aquisição da caríssima Suite Rose para que você possa passar dias (ou meses) desenhando quadradinhos e setinhas. Assim vocês terão vários diagramas sexys para mostrar para o cliente em substituição à código implementado e funcionando. A metodologia RUP também adora documentações que é o assunto da próxima lição.
Lição 3 – Documente
Ao gerar documentação você estará dando uma importante contribuição para o insucesso de nosso projeto. Mas quando eu falo de documentação eu não estou falando apenas de um ou outro documento “levemente útil” como um resumo e/ou esboço de um diagrama de classes ou diagrama de ER. Eu estou falando de páginas e mais páginas de especificações, cartões, diagramas UML em sua plenitude (status, use cases, …), planilhas de todos os tipos, manuais e todo o resto que sua imaginação permitir. Lembre-se:
A documentação é uma boa técnica para que nosso projeto falhe porque além de você perder tempo fazendo ela no começo do projeto você vai ter que perder esse tempo todo novamente no término do projeto para “atualizar” a documentação (coloquei “atualizar” entre aspas porque o “atualizar” alí significa jogar tudo fora e fazer novamente).
Uma dica adicional nessa lição é: formato é muito mais importante que informação, portanto, deixe o designer que existe em você aflorar durante a confecção desta documentação.
Lição 4 – Fale “buzzwordês”
“O beans das business class precisam passar por um deploy” é uma frase que contribui muito mais que “As classes de negócio da camada model precisam ser entregues” para o insucesso do projeto, portanto, extenda seu buzzwordês. Alguns bons pontos de partida para isso é ir nos sites da IBM e Sun (principalmente a parte Java) e ler tudo que fizer referência à J2EE, e-business, etc. (dê uma olhada especial no produto Websphere da IBM… aquilo é um clássico do buzzwordês).
Essa lição aparentemente não apresenta nada prático que contribua para o não-andamento do nosso projeto mas acredite ela é fundamental para que nosso projeto fracasse.
Lição 5 – Adote o hype
Eu tenho uma paixão especial por essa lição. É a que eu tenho mais prazer em ensinar. A minha definição de hype é: tudo aquilo que não tem nada de inovador e mesmo assim promete resolver todos os tipos de problema. Os hypes são criados por pessoas de marketing e pessoas de marketing raramente sabem desenvolver software, logo, se você ‘comprar’ tudo o que eles te vendem é grande a chance de que nosso projeto fracasse e nossa tarefa se torne um sucesso.
Em alguns casos (raros) o hype pode até não ser a solução para todos os problemas, mas soluciona muito bem algum tipo muito específico de problema (mesmo que não tenha nada de inovador em sua idéia), portanto, cuidado com casos do tipo “vou usar XML para gravar uma informação estruturada num formato padrão texto” porque é exatamente pra isso que XML serve e nesse caso ele se torna útil (blerg!). Use XML em coisas para as quais ele não foi pensado: linguagem de query, linguagem de programação, arquivos pequenos de configuração, etc.
Prefira usar o “Enterprise jXML .NET” para fazer o seu trabalho do que usar algo que seja simples e funcional. Coisas como J2EE, EJB, JMS, etc são ricos em hypes, portanto, fique antenado à essas coisas.
Conclusão
É isso aí, com o passar do tempo eu vou passando algumas lições do “Curso de Projetos Fracassados” para que você sempre esteja por dentro das boas práticas para o insucesso de seu projeto.