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        H      o      M      e                P      a      G      e


Manual do Estagiário
de Propaganda
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(texto obtido no site da DPTO.)

INTRODUÇÃO
Faço questão de ver pastas. Porque também já fui iniciante e um dia 
alguém teve saco para ver a minha. Tenho essa dívida com a 
profissão.
           
Mas nesses 10 anos já entrevistei todo tipo de maluco, de 
megalomaníaco, de desavisado, e posso garantir uma coisa: não é 
mole. Alguns candidatos se mostram tão perdidos quanto o tempo que a 
gente dedica a eles.

Só que de vez em quando aparece um talento real que faz o todo o 
esforço valer a pena.

E foi assim, analisando centenas de portfolios, em horários que 
muitos workaholics já estão de pijaminha, que percebi como os 
candidatos a estágio cometem erros bobos e desnecessários.

Não é culpa deles. Publicidade é uma profissão diferente, que não se 
encaixa nas regras comuns do "como começar". Tem seus próprios 
macetes. Este Manual do Estagiário foi feito para ajudar quem está 
iniciando nessa área tão competitiva. É também, confesso, uma 
tentativa de melhorar os meus finais de expediente.
           
O Manual do Estagiário não tem a pretensão de ser um curso de 
redação, direção de arte ou coisa parecida. É apenas um pequeno guia 
de etiqueta. Como se comportar à mesa - principalmente à mesa do 
Diretor de Criação.

Não tentei esgotar o assunto. Foi o que deu para escrever entre uma 
campanha e outra. Se você tiver dúvidas, críticas ou sugestões, 
mande seu e-mail para mim.

São apenas opiniões. Por favor, não acredite cegamente. Não leve ao 
pé da letra. Não transforme em dogmas. Existe a real possibilidade 
de que eu esteja enganado. Eu nunca fiz estágio.

Eugênio Mohallem

MANUAL DO ESTAGIÁRIO
(Ou, para ficar na moda, "A Inteligência Emocional do Estagiário de 
Propaganda.")

Conseguir estágio em agência é quase tão difícil quanto arrumar vaga 
de astronauta na Nasa. E a vida dos astronautas é mais fácil, porque 
o Universo é infinito, enquanto as boas agências são pouquíssimas. 
Portanto, não bobeie e muita atenção ao Primeiro e Fundamental 
Mandamento do Candidato a Estagiário.

PRIMEIRO E FUNDAMENTAL MANDAMENTO DO CANDIDATO A ESTAGIÁRIO:
Não seja mala. A menos que você queira um estágio na Samsonite. 
Propaganda é um mundinho pequeno, uma área onde todos se conhecem. 
Se o rótulo de "mala" grudar em você e se espalhar, você estará 
acabado antes de começar. 

JÁ PREPAREI MEU CURRÍCULUM VITAE. E AGORA?
Agora você joga o currículo fora. Lembre-se que uma árvore precisou 
morrer a golpes de machado antes de desperdiçar uma valiosa folha de 
celulose com currículos. Não servem para absolutamente nada. Aliás, 
fico me perguntando por que alguém acha que se dizer "experiência em 
Cobol e dBase" vai adiantar alguma coisa.
            
Alguns são mais espertos e se tocam que currículos normais são 
inúteis, mas resolvem o problema do jeito errado: tentam fazer 
"currículos criativos". Mandam o currículo dentro de latas, escritos 
em papiros, através de telegramas falados etc, etc, e etc. Não 
funciona. Simplesmente porque nada disso prova que você é capaz de 
fazer um bom anúncio ou filme.

Eu me lembro de alguém que diagramou o currículo como se fosse um 
rótulo de bebida, colou numa garrafa de vinho e mandou para um 
Diretor de Criação. Eu trabalhava para ele e perguntei: que tal o 
currículo?

Ao que ele respondeu: "nacional".

O que resolve é portfolio com anúncio bom. Crie uns 5 anúncios 
maravilhosos, coloque num portfolio e pronto, a vaga é sua. Se não 
houver vaga, não tem problema: a qualidade do seu trabalho vai criar 
a vaga na hora. Simples, não? Simples nada.

PREPARANDO O PORTFOLIO
Idéia boa é idéia boa em qualquer lugar, mas uma apresentação 
razoável sempre ajuda. Se quiser, você pode comprar um portfolio 
profissional no Omar Olguin, que é o mais conhecido. O telefone do 
Omar é (011) 65-3221 (não estou ganhando nada pelo merchandising. Se 
você souber de outros bons fabricantes, escreva-me que incluirei 
aqui).

Coloque na pasta somente peças onde a sua participação foi 
importante, decisiva ou majoritária. Se você só fez o texto e o 
título é de outro redator, avise antes que perguntem.

O portfolio deve ser a última trincheira da moralidade. Uma pequena 
picaretagem aqui e você está queimado. E pode acreditar: mais cedo 
ou mais tarde (geralmente mais cedo) tudo se descobre. Como eu já 
disse, propaganda é um mundinho.
            
Cuidado com a pasta folclórica. Toda pasta de estagiário tem alguma 
campanha para camisinha. É compreensível, já que este é um tema 
legal e tem um briefing conhecido. Mas já está manjado. Além do 
mais, este tipo de campanha é uma exceção no dia-a-dia da agência, 
que é feito de sabonetes, sabões em pó e pastilhas para freio. Pega 
bem criar anúncios para produtos reais e não apenas para boas 
causas. Lembre-se que agências precisam dar lucro. E eu presumo que 
você não aceite ser pago em camisinhas (ainda que você aceite, não 
vai ter muito tempo para usá-las).

Você já ganhou um prêmio? Ótimo, parabéns, mas não precisa colocar o 
diplominha na pasta. É forçada de barra, do tipo "Eu ganhei prêmio 
com este anúncio, você vai ter coragem de não achá-lo genial?"

O profissional que vê pastas em geral já tem um critério 
desenvolvido e sabe avaliar as peças independentemente de sua 
performance em premiações. Se ele tiver critério, o tal diploma é 
desnecessário.

Se não tiver, para quê você quer estagiar com ele?

A IMPORTÂNCIA DO PRIMEIRO ANÚNCIO.
O primeiro anúncio da pasta é o que rotula e classifica você. É a 
famosa primeira impressão. Se o primeiro anúncio for bom, os que se 
seguirem vão apenas ter que reforçar isto. Se for ruim, caberá aos 
outros a hercúlea tarefa de reverter uma má impressão inicial. Viu a 
responsa? Viu a diferença? Carinho com o primeiro anúncio.

Idealmente, o primeiro anúncio deve produzir a seguinte sensação em 
quem vê a pasta: "Epa! Aqui tem coisa. Deixa eu ver se tem mais". 
Peça opinião de colegas, promova uma votação secreta na sua casa, 
pergunte ao zelador do prédio, mas não erre no primeiro anúncio.

A ORDEM DOS FATORES ALTERA A PROPOSTA.
Minha sugestão de como montar um portfolio que impressiona é o 
seguinte:

Comece dispondo os seus anúncios numa fila crescente de qualidade. 
Primeiro o meia-boca, por último o melhor deles:
1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10.
Depois, pegue o último (o melhor) e coloque na frente de todos: 
10, 1, 2, 3, 4, 5, 6 ,7, 8, 9.
Está pronta a pasta: um grande anúncio abrindo - e em seguida um 
crescendo de qualidade. Naquela bolsinha lateral, você põe os 
discutíveis e polêmicos. E só os mostra se for necessário ou se 
houver clima para tanto.

PEÇAS POLÊMICAS E OUTRAS ESQUISITICES.
Regra: o que é consenso vem primeiro, o que é discutível e polêmico, 
só no final. Não fui eu quem inventou isso. Esta é uma regra básica 
de retórica. Tanto que ninguém começa um discurso com "Sou a favor 
da pena de morte". Em geral, começa-se com pontos em que todos 
concordam, tais como "É preciso diminuir a violência". 

No portfolio é a mesma coisa: só depois de "ganhar" quem está vendo 
a pasta, é que você pode arriscar e mostrar aquela peça que 9 entre 
10 pessoas acham que é delírio. E principalmente aquela peça que é 
igualzinha a uma outra que está no anuário, mas que você jura ter 
feito primeiro. Pois só depois de ver vários anúncios bons seus, só 
depois de estar convencido de que você tem realmente talento, é que 
existe a chance de que alguém acredite na coincidência. Anúncio 
chupado no começo da pasta, ainda que involuntariamente, é filme 
queimado na certa.

Aliás, isso merece um parágrafo.

PARÁGRAFO:
Uma das coisas mais chatas que podem acontecer a quem está começando 
é o "plágio retroativo": um belo dia, sai na Veja um anuncio igual 
ao que você fez faz tempo, mas não saiu. Como você ainda é 
desconhecido, vão pensar que o SEU é plágio. É duro, mas nestes 
casos, não há muito o que fazer. É mais negócio tirar da pasta. Você 
vai ter que dar tantas explicações que não vale a pena.

E FINALMENTE:
Além de todas essas preocupações, não se esqueça de colocar uns 5 ou 
6 anúncios indiscutivelmente geniais na pasta. Costuma funcionar. 

COMO É QUE EU ESCOLHO UMA AGÊNCIA?
Pelo dono da agência. Uma agência sempre tem a cara do dono. Os 
valores e prioridades do dono permeiam toda a estrutura. Assim como 
também é a identificação com estes valores que atrai clientes e 
profissionais parecidos.

Logo, se você é de criação, vai se sentir muito mais realizado se 
procurar agências cujo dono seja de criação. Certamente serão 
agências onde a criação vai ter mais peso e mais voz que, por 
exemplo, numa agência de mídias.

Mas não siga esta regra cegamente. A Talent, uma das agências mais 
sistematicamente criativas do país, pertence a um profissional de 
Planejamento (vá lá, ele foi redator em início de carreira). Mas se 
você tiver a sorte de conseguir um estágio lá, não seja louco de 
desperdiçar.

DURANTE A ENTREVISTA: COMPORTE-SE. VOCÊ ESTÁ SENDO OBSERVADO.

As pessoas olham as pastas, mas contratam pessoas. Comporte-se.
            
Se você já está em alguma outra agência, não fale mal das pessoas de 
lá.

Vão adorar ouvir as fofocas, mas não vão confiar em você.

Não fique tentando explicar, contextualizar as peças. Deixe o 
portfolio falar por si próprio. Anúncio que precisa de explicação é, 
em princípio, anúncio ruim. Além do mais, ninguém consegue ler um 
texto com alguém do lado matraqueando sem parar. Lembre-se do 
primeiro e fundamental mandamento. Não seja porfolio-sem-alça.

Não seja presunçoso. Provavelmente você ainda não é tão bom quanto 
pensa. E, ainda que seja, talvez não seja o suficiente. A 
concorrência hoje em dia, entre estagiários, está assustadora. Um 
dia surgiu uma vaga aqui na Almap. Pensa que o pessoal veio com 
idéias rabiscadas em papel almaço? Nada disso. Profissionalíssimos. 
Lay-outs de computador. Portfolios em CD-ROM. Um dos canditados 
tinha até filme concorrendo em Cannes. E não levou a vaga.

Tenha sorte de ser a pessoa certa na hora certa no lugar certo.

Eu não sei onde se compra isso, mas arranje. 

MOSTREI A PASTA PARA TODO MUNDO E NÃO CONSEGUI NADA.
Você é que pensa que não conseguiu nada. Conseguiu sim: a esta 
altura, seu critério já está mais apurado. Depois de passar por um 
monte de gente, você já descobriu quais são os anúncios realmente 
bons, quais os meia-boca, etc. O pessoal diverge um pouco, mas o que 
é muito bom e muito ruim aparecem claramente. Isso vale ouro. 
Aproveite para ir promovendo ajustes na pasta.

O que dá origem a uma subdica: não cole as peças com adesivo muito 
forte. Colar e descolar vai ser um exercício constante.

Cuidado também com as peças xerocadas: elas soltam um pó que gruda 
no acetato da pasta, estragando o portfolio. Se não der para evitar 
a xerox, experimente jogar um spray fixador nelas. Não resolve de 
todo, mas ajuda.

Nunca deixe o porfolio no carro: o calor deforma completamente o 
acetato. E se levarem o veículo, além do seguro não cobrir, ainda 
existe o risco de o ladrão fazer carreira com as suas idéias. 
Pensando bem, isso já deve ter acontecido muito. 

NÃO ME ENROLA: MOSTREI A PASTA PARA TODO MUNDO E NÃO CONSEGUI NADA.
Uma pasta inteiramente renovada - e, de preferência, levando em 
consideração todos os conselhos que você recebeu no primeiro périplo 
que fez - é a melhor desculpa para conseguir uma segunda chance. 
Pasta igual, sem novidade, nem pensar.

Por outro lado, um jeito simpático de se fazer lembrar, sem amolar 
ninguém, é mandar pelo correio, para pessoas que você já visitou, 
uma versão xerocada e reduzida do seu portfolio. Com nome, telefone 
e um bilhete curto. Se pintar uma vaga no futuro, pode ser que se 
lembrem de você. 

CONSEGUI O ESTÁGIO. E AGORA?
Sabe o primeiro e fundamental mandamento do candidato a estagiário? 
Também é o primeiro e fundamental mandamento do estagiário: não seja 
mala. O departamento de criação é lugar sem paredes, onde as pessoas 
têm que conviver entre si 12 horas por dia. Ou seja, inconvenientes 
incomodam. Publicidade é uma profissão em que as pessoas têm que se 
expor muito, falar e propor muita bobagem, então elas preferem 
trabalhar com gente em quem possam confiar. Seja legal. Ou finja que 
é. Depois que você virar dono de agência, aí pode ficar intragável à 
vontade.

Não defenda excessivamente um trabalho recusado. Gente que se agarra 
demais a uma idéia é porque deve ter poucas. Confie nos mais 
experientes. Você pode até ter mais talento que eles. Mas, nesse 
ponto da sua carreira, eles provavelmente sabem usar o seu talento 
melhor que você.

Não discuta, não argumente demais, não pondere e, sobretudo, não 
comece frases com "Veja bem". Se mandarem você refazer, refaça. Por 
quê? Leia o segundo e fundamental mandamento do estagiário.

SEGUNDO E FUNDAMENTAL MANDAMENTO DO ESTAGIÁRIO:
Resolva problemas e suba. Crie problemas e suma.

O primeiro produto que você vai ter que vender é você mesmo. Seu 
consumidor, no bom sentido (ou no mau, a vida é sua) é o Diretor de 
Criação. E você só será um produto útil, desejado e valorizado se 
resolver problemas para ele. Vamos analisar mais detalhadamente esta 
criatura:

O Diretor de Criação é um ser atormentado com pressões de todos os 
lados. A diretoria pressiona por faturamento, o atendimento 
pressiona por prazos, o cliente pressiona por custos e, às vezes, 
por uma visão criativa própria. A equipe de criação pressiona pela 
aprovação daquela campanha que vai dar prêmio. Isso sem contar a 
pressão que ele sofre do próprio ego, por estar cada vez mais 
envolvido com atividades executivas e menos com Criação.

Diariamente, toda sorte de pepinos aterrissam na mesa dele, 
travestidos de "Pedidos de Criação". Alguns desses pepinos ele vai 
repassar para você. Se você souber descascá-los com competência, 
rapidez e, ainda por cima, com brilho, você terá no Diretor de 
Criação um homem eternamente grato. A simples idéia de perder você 
para outra agência vai tirar o sono dele.

Por outro lado, se em vez de levar soluções, você for um pepino 
ambulante, você não serve. Se o diretor de criação tiver que perder 
mais tempo com você do que perderia fazendo ele mesmo o trabalho, 
você é apenas um estorvo. Tema pelas sextas-feiras, dia em que 
tradicionalmente as agências se livram dos chatos.

Quanto mais rápido e talentoso for o Diretor de Criação, mais 
cuidado você vai ter que tomar com o precioso tempo dele. Se ele 
resolve com um pé nas costas aquilo que você enrola uma semana, o 
próximo pé dele pode ser nas suas costas.

Acredito que essa dica vale para a vida inteira, não importa se você 
é estagiário, junior, senior ou seja lá o que for.

E COM O RESTO DO PESSOAL?
Principalmente, seja humilde. A arrogância inibe opiniões sinceras. 
Você vai receber respostas diferentes se perguntar "o que você acha 
deste título?" no lugar de "não é genial este título?"

ANUÁRIOS DO CLUBE DE CRIAÇÃO
Os anuários do Clube de Criação de São Paulo são o registro daquilo 
que a propaganda brasileira produziu de melhor nos últimos 20 anos. 
Leia, releia, decore cada um deles. Ajuda muito, em pelo menos três 
aspectos: você aprende, sem perceber, como dar forma às idéias. O 
estagiário de talento é alguém que já tem boas idéias, mas se perde
na formulação. Os anuários são um prato cheio delas. Algumas, de
tão gastas e repetidas, já viraram fórmulas, truques. Mas sempre
ajudam. Você vai encontrar, provavelmente, muita coisa do seu 
Diretor de Criação e do pessoal da agência nos anuários. É um jeito
de você saber com quem está lidando. Se são talentos genuínos ou
apenas metidos à besta. Se são pessoas em quem vale a pena grudar. 
Evita que você crie coisas geniais, maravilhosas - mas que 
já foram feitas. Embora o anuário mais recente custe uma nota, os
mais antigos costumam ser uma pechincha. Atualmente, o Clube de
Criação de São Paulo está vendendo 11 edições do Anuário por apenas
200 reais. Ou seja, só 18 reais cada - e a metade disso se você
for sócio. 
Aproveite. Como dizem as escolas de computação, o curso é grátis, 
você só paga o material didático.

O telefone do Clube de Criação de São Paulo é (011) 251-0766. Ligue 
e diga que você leu a dica na minha página. Você não vai ganhar 
nenhum desconto por isso, mas eu vou ficar com a maior moral lá. 

CULTURA GERAL.
Vire-se para arranjar. Mas o ideal é que você já tenha, e bastante. 
Porque depois de entrar numa agência competitiva você não vai ter, 
infelizmente, muito tempo para ir a cinema, ler, viajar etc. Então, 
é indispensável que você já tenha acumulado uma boa cultura geral, 
seja através de vivência, seja através de livros, etc. Imagine que 
você é uma bateria. A cultura é sua carga, carregada a vida inteira. 
O processo de criação exige que você gaste esta carga - e sem muito 
tempo para recargas. Se você é uma bateria fina, vai se esgotar 
logo. Tomara que você e seus pais tenham investido na sua educação. 
Senão, esqueça. Vá ser Dee-Jay.

CULTURA INÚTIL.
Se você já se perguntou algum dia para que serve a famosa cultura 
inútil, eu respondo: para fazer propaganda. É impressionante o que 
isso rende. Um dia, li uma notinha sobre um homem que criava um leão 
no quintal e que esse leão havia sido roubado. Virou texto de 
anúncio de seguradora: "Se os assaltantes não têm medo nem de leão, 
você acha que um cão de guarda vai defender seu patrimônio? Faça um 
seguro etc" E por aí vai. Fatos dão sabor e consistência a qualquer 
argumentação. E propaganda, lembre-se, é argumentação embrulhada 
para presente. 

ESPERA AÍ: ESTE MANUAL É SÓ PARA ESTAGIÁRIO DE CRIAÇÃO. EU QUERO 
ESTAGIAR EM ATENDIMENTO.
É verdade. Desculpe não ter avisado antes. E quer ouvir outra má 
notícia? Apesar da Criação ser a área mais desejada e procurada, 
entrar em Atendimento é mais difícil ainda. Por quê? Porque não 
existem parâmetros objetivos para avaliar o talento do iniciante 
nessa área. Querendo Criação, você faz um portfolio e mostra. Mas, 
querendo Atendimento, vai mostrar o quê? Sua habilidade em dar nós 
Windsor na gravata? Acho que a seleção de estagiários em Atendimento 
acaba sendo meio na base do feeling, da química. Resta a você tentar 
uma entrevista com alguém da área, dizer que os deslumbradinhos 
adoram criação, mas você que é sensato gosta mesmo é de Atendimento 
e torcer para irem com a sua cara. É difícil e imprevisível. 

Mas, pensando bem, essa dificuldade inicial é justa: afinal, para 
você que um dia vai estar convencendo clientes a aprovar campanhas 
que custam milhões de dólares, convencer alguém a comprar um 
estagiário bom e baratinho vai ser moleza. Boa sorte. 

E antes que você fique com a impressão de que tratei o seu problema 
com descaso, quero dizer que acho Atendimento tão ou mais importante 
que Criacão numa agência que pretenda ser criativa. Porque uma 
agência não é percebida como criativa pela qualidade daquilo que ela 
consegue criar, mas sim pela qualidade daquilo que ela consegue 
aprovar e veicular. Idéia boa, recusada, não vale nada. Por isso, 
toda agência boa de criação é, antes de tudo, boa de aprovação. Vou 
torcer para você se tornar um grande profissional de atendimento, 
porque nós da Criação precisamos muito dessa turma. 

EVITE A TODO CUSTO:
Não faça tráfico de informações. Não comente fora da agência nada 
que você ou um colega criou e que ainda não foi veiculado. Isso é 
propriedade da agência e do cliente. Nada de conversinhas de bar do 
tipo: "vocês não imaginam o puta anúncio que eu fiz hoje". Bico 
calado até o anúncio sair. Aí, pode fazer quanto lobby quiser.

Alguns estagiários tentam compensar o pouco status inicial com o 
tráfico de informações. "Faço estágio na agência tal e fulano que 
trabalha lá disse o seguinte". Alta traição. Um inocente comentário 
fora da agência pode colocar campanhas a perder, prejudicar os 
clientes, concorrências e prospects. Além do fato de que os 
ouvintes, embora possam se aproveitar da informação recebida, vão 
pensar duas vezes antes de contratar um boquirroto como você.

Propaganda é uma indústria e não está imune à espionagem industrial.

Não facilite.

DROGAS
Talvez eu esteja sendo muito ingênuo ou distraído, mas não conheço 
muitos profissionais que façam uso delas. 

O ambiente das agências hoje em dia é predominantemente careta. Até 
o cigarro está diminuindo. O volume atual de trabalho exige 
produtividade, profissionalismo, atletismo intelectual. Chegar, 
ligar o computador e trabalhar. É um ritmo forte que a droga, em que 
pese uma ou outra suposta "iluminada", acaba prejudicando. A grande 
droga consumida nas agências hoje em dia é a pizza para viagem. 

DÊ CRÉDITO A QUEM MERECE.
Ter um texto enxuto é bom. Mas nunca nas fichas técnicas. Se você 
foi ajudado, reconheça e registre. Você é pequenininho demais para 
fazer inimigos.

Por incrível que possa parecer, sua sobrevivência vai depender mais 
da sua reputação que da sua pasta. Já vi pessoas perdendo a chance 
de conseguir emprego porque alguém na criação levantou uma 
sobrancelha, ironicamente, quando o nome do candidato foi citado.

Nenhuma pasta, por melhor que seja, sobrevive a um "Esse cara aí é 
bom. Mas".

Existe uma teoria do Bill Bernbach, citadíssima, mas que sempre vale 
a pena relembrar. Dizia o mestre:

"Se vejo uma pasta medíocre de um bom sujeito, gasto horas com ele, 
explico que não vai ser possível, lamento profundamente. Mas se vejo 
uma pasta brilhante de um mau-caráter, despacho o canalha a 
pontapés. A vida é curta demais para perdermos tempo com filhos da 
puta".

PODE ESQUECER A NOVELA DAS SETE.
Carreiras são como aviões: você precisa de mais força na decolagem 
do que para se manter nas alturas. Ou seja, esteja preparado para 
ralar muito nos primeiros anos. 

ESTOU INDO TÃO BEM QUE RECEBI UMA PROPOSTA.
Não mude de agência pelo dinheiro. Só pense no fator dinheiro depois 
que estiver convencido de que a mudança, por si só, já vale a pena. 
E aí sim, negocie o melhor salário que puder. Mais vale um estágio 
não-remunerado em agência boa do que emprego em agência média. O 
autor da frase "o dinheiro não é tudo" provavelmente era um 
estagiário esperto.

Recebendo uma proposta, não blefe, não faça chantagens, 
cabos-de-guerra ou joguinhos espertos com a agência. É verdade que 
com uma proposta na mão você tem um trunfo - mas nos outros 364 dias 
do ano você não tem. Não costuma ser bom negócio colocar um diretor 
de criação contra a parede.

E, se o seu ego permitir, não divulgue por aí as propostas que você 
recusou. Por educação, nada mais. Você também não iria gostar se 
alguém saísse espalhando que não quis nada com você.

Resumindo todo esse papo de escoteiro: em propaganda você tem que 
ser esperto. Nunca espertinho ou espertalhão.

SÓ ME DÃO MERDA. O QUE ELES PENSAM QUE EU SOU? ESTAGIÁRIO?
Você acha que a agência vai dar a campanha mais importante de um 
cliente grande para um desconhecido qualquer? Ainda que eles fossem 
loucos para fazer isso, seria um desrespeito para com os clientes. 
Seus jobs irão ganhando complexidade e importância à medida que você 
for inspirando confiança.

E tem mais: o que parece um osso muitas vezes é um filé. E um filé 
muitas vezes é um osso. Depende do seu talento. Qualquer boteco faz 
filé ao molho madeira. Mas poucos fazem um ossobuco como o Fasano. 

UMA PALAVRA DE CONSOLO AOS ETERNOS RECLAMÕES:
Os médicos levam uma vida muito mais dura que você. Eles estudam 
seis anos, depois mais dois de especialização. No começo, só podem 
ficar assistindo às cirurgias de médicos mais experientes, sem fazer 
nada. Depois, passam a colaborar nas cirurgias dos outros, sem 
nenhum crédito. Depois, passam a operar, mas vigiados de perto. E só 
depois disso, muitos e muitos anos depois, é que ficam sozinhos 
diante de um pâncreas.

Tudo isso por um salário menor do que aquele que você estará 
ganhando em breve, se tiver talento. E com muito mais plantões. 

PALAVRAS FINAIS:
Todo job é osso, chato, difícil e complicado - até você ter uma boa 
idéia. Aí ele fica legal.