Meus amigos sabem que sou corintiano. Torcedor que acompanha o time, assiste aos jogos (menos no estádio por questões de segurança), veste a camisa e tudo o mais. Também sabem que trabalho com desenvolvimento de software e que sou heavy user de Internet.
Graças a esses contatos na rede fui um dos primeiros brasileiros a receber um convite para participar de um site novo do Google conhecido por “Orkut”. Era uma época onde comíamos dezenas (centenas até) de “donut’s” que não eram entregues aos servidores.
Os primeiros usuários do Orkut no Brasil estavam localizados no Sul (majoritariamente Porto Alegre) e em São Paulo (majoritariamente na Capital). A primeira comunidade que eu criei foi a “Corinthians” quanto só existia a do Internacional e do Grêmio. Sério! As primeiras comunidades de time de futebol do Brasil foram a do Colorado e a do Tricolor Gaúcho. Depois que eu criei a comunidade do Corinthians abriram as porteiras do Orkut (podiamos usá-lo sem convites) e outras comunidades foram criadas.
Como era de se esperar as comunidades do Flamengo e do Corinthians cresceram mais do que as outras. Mas a comunidade do Corinthians, contradizendo certas pesquisas feitas por cariocas, sempre teve mais membros do que a do Flamengo.
Como era de se esperar não demorou muito para começar as pixações. As ferramentas de moderação e de administração de comunidades do Orkut se limitavam à aprovação um a um dos inscritos na comunidade e a exclusão dos baderneiros (sem opção de banir).
A coisa ficou “feia” quando chegamos a 600.000 integrantes e uma média de 300 novos inscritos por *dia*. Todos devidamente moderados somente por mim num processo que me obrigava a visitar perfil por perfil dos novos usuários para ver se o usuário já não estava em outra comunidade de time de futebol (o torcedor entra pra comunidade do seu clube antes de entrar na dos clubes adversários para pixar).
Não dava mais. Eu passava o dia inteiro mexendo só com isso num trabalho não-remunerado (ter uma comunidade desse tamanho, naquela época, não rendia dinheiro algum).
Chegou a hora de tomar algumas medidas: pedir ajuda na moderação e criar regras para lidar com os arruaceiros que chegavam às centenas após um jogo.
Chamei meus amigos corintianos Érico (que torce pro Juventus nas horas vagas) e Márcio Medrado para me ajudar na moderação. Na época só um usuário podia administrar uma comunidade. Criamos o usuário “Gilmar Giovanelli” para essa função e distribuímos a senha entre nós. Esse problema estava resolvido faltava resolver o problema das pixações.
Entrei em contato com os moderadores das comunidades do Flamengo, Palmeiras, Santos e São Paulo pra perguntar a eles como faziam para resolver o problema dos “ataques” e me disseram que lidavam com aquilo caso-a-caso numa hercúlea tarefa de enxugar gelo. Exatamente o que estávamos fazendo.
Conversa vai, conversa vem, sugeri criar regras comunitárias válidas para todas as nossas comunidades. Essas regras eram discutidas na comunidade “Clube dos 13”.
A regra mais importante dizia que quando, por exemplo, um flamenguista invadia a comunidade do Corinthians para tumultuar ele era banido da comunidade do Corinthians e uma solicitação era feita no Clube dos 13 para ele ser banido da comunidade do seu próprio clube. Isso funcionou lindamente por muito tempo. Só não sei se ainda funciona.
Chegamos a 800.000 membros, a segunda maior comunidade da categoria “Sports & Recreations” do Orkut. Só perdiamos para “Eu adoro praia” (concorrência desleal :D). Os outros seguiam: Flamengo, São Paulo, Palmeiras e Santos.
Mas a história teve um final triste: por conta de um bug no Orkut (um?) as comunidades perderam os moderadores e uma mensagem “become a moderator” surgiu na comunidade do Corinthians (na do Flamengo também). No caso do Flamengo um usuário pegou a moderação e transferiu devolta para o antigo dono. No nosso caso o usuário que assumiu a moderação brigou com alguns membros porque não queria devolvê-la ao “Gilmar” e apagou a comunidade.
Tentamos de todas as formas contatos com a equipe do Orkut para pegar devolta a comunidade mas nada feito.
Não demorou muito e outra comunidade Corinthians foi criada. As pessoas foram voltando, mas mesmo assim não era mais “aquela” comunidade. O lado bom disso: o trabalho era grande, difícil e não-remunerado. Tiramos um peso muito grande das costas.
Por outro lado, imagina a “influência” que teríamos hoje, em tempos de “Marketing Social”, ter uma comunidade com cerca de um milhão de membros? 🙂
(PS. esse post surgiu a partir da minha ideia de recriar a comunidade Corinthians no novo Orkut. Mas para isso eu preciso de um convite :P)